Patrono da Escola: Heitor Annes Dias

Filho de Lúcio Annes Dias e de Balbina Lopes Dias, nasceu em Cruz Alta, Rio Grande do Sul, em 19 de julho de 1884.
Fez seus estudos de Humanidades no Ginásio Conceição de São Leopoldo. Ingressou aos 14 anos na Faculdade de Medicina de Porto Alegre, integrando a 2ª turma de alunos por ela diplomados (1905). Formou-se também em Farmacologia.
Aos vinte e um anos de idade casou-se com Carolina de Revoredo (D.Sinhá) e fixou residência em Cruz Alta. O casal teve dois filhos: Carmen e Cássio Annes Dias.
Faleceu, no Rio de Janeiro, num domingo, 07/11/43, aos 59 anos, vítima do coração.

O Professor
Em 1908, com 23 anos, após brilhante concurso, foi nomeado professor de Medicina Legal e Toxicologia, iniciando a sua brilhante carreira de professor, em Porto Alegre.
A seguir foi indicado para a cadeira de Medicina Legal, no grande mestre de Clínica Médica.
Ao retornar, em 1918, após proveitoso estágio nos Hospitais de Paris, onde esteve a serviço do maior mestre da medicina francesa contemporânea, Widal, foi indicado, interinamente, para a Cátedra da 3ª Clínica Médica. Começa aí uma nova era para a medicina rio-grandense, a era de ANNES Dias.
De 1919 a 1934, quando, eleito deputado à Constituinte embarcou para o Rio de Janeiro, exerceu a Clínica, lecionou e escreveu os seus primeiros livros.
Em 1934 a Medicina venceu a Política e o Professor foi transferido para a Universidade do Brasil, na capital federal. Lá seu talento pôde atingir a plenitude do amadurecimento e a sua obra tornou-se mais perfeita.
Annes Dias foi, acima de tudo, um professor e um investigador.Ensinava, ensinava com prazer, com deleite, com sabedoria, com brilho. A sua cátedra foi viva, animada pela chama do entusiasmo, do amor ao ensino.
Formou escola, difundiu conhecimentos, deixou discípulos. Sua vida foi um exemplo. “Com enorme poder de persuasão, com extraordinária habilidade de educador, nunca usou destas faculdades para modificar a personalidade de seus discípulos. A influência de seu nobre espírito fazia-se por suas ações, sem coerção, sem intenção de predomínio, sem proselitismo ou catequese”. (Dr. Mauro Pena)
É considerado o grande MESTRE de medicina brasileira.

O cientista
Trabalhador infatigável, inteligência pouco comum, a sua obra abrange os mais variados problemas da patologia humana. Ao todo, nos oito volumes publicados, foram 127 diferentes temas de patologia humana. Possuí a aptidão de transmitir com facilidade e sem cansar, aquilo que se propunha a ensinar.
Annes Dias participou de vários congressos, fez um grande número de conferências, colaborou em várias revistas do país, da Argentina, da França. Era membro das Academias de Medicina do Rio, de Madrid e de Buenos Aires. Foi presidente da Sociedade de Ulisses Nonohay o “Rio Grande Médico” onde publicou excelentes artigos. Recebeu o título de professor “Honoris Causa” da Universidade de Santiago do Chile. Annes Dias foi sempre um pioneiro e desbravador. Investigava com calor, com paixão. Os problemas difíceis o fascinavam. Quanto mais complexo o assunto, tanto maior o seu entusiasmo.
Muito estudioso, arguto, com memória e visão clínica privilegiadas o mestre partia do princípio de que na medicina, como na vida em geral, só se encontra aquilo que se procura, sem deixar de seguir à risca os dizeres de Claude Bernard: “quando não se sabe o que se procura, não se compreende o que se acha”.
Foi o primeiro médico brasileiro que mostrou as vantagens e os benefícios que o laboratório traz, como coadjuvante da medicina e da cirurgia e o criador de um capítulo novo na medicina mundial: a meteorologia clínica.

O Médico
Annes Dias exerceu a medicina como um verdadeiro clínico. No acervo de seus casos, há diagnósticos de uma beleza admirável. Acima de tudo ele era simples e bom, humanizado a sua ciência. Soube como ninguém adquirir o máximo de ciências e colocá-la ao serviço da humanidade.
Pesquisador sutil associava à ciência feita a sua ciência, os resultados de suas investigações, seus ensaios de conceitos médicos, suas descobertas, a sua técnica de debelação dos estados mórbidos.
Seus trabalhos, conferências ou aulas, todos levaram à compreensão da Medicina como um todo. O PROFESSOR nunca admitia fronteiras entre o todo e a parte. Nota-se, em seus trabalhos fundamentais, a concepção global da Medicina.
“Moralmente ele era a personificação da consciência e da dignidade profissionais, na ordem científica um criador, na ordem intelectual era e é um verdadeiro mestre, um chefe da escola.
Inspirado no Evangelho e apoiado em Cristo e na sua Igreja, encarnava todos os princípios de virtudes da profissão. Praticava a caridade sem afetação, a caridade cristã.
Annes Dias edificou no Hospital Moncorvo Filho, no Rio de Janeiro, o melhor serviço de clínica médica da país”. (Homero Fleck).

O Homem
Ele andava sempre armado de recursos espirituais infinitos e era com esses recursos que chamava à razão os que perto dele se deixavam arrebatar pela fúria. Nunca permitiu represálias, porque entendia que o ódio não podia ser o antídoto do ódio.
Acrescentava com profundo senso filosófico:
“Temos quase sempre para os nossos erros uma explicação que nos satisfaz e absorve. Os erros dos outros terão também suas razões”.
Ele foi um sábio e um justo, de uma modéstia invulgar.
Fonte: IN MEMORIAM ANNES DIAS – Coletânea de tudo o que se disse por ocasião de sua morte.